Dallas no Paraná - 1999

1999


Uma matéria de três paginas publicada pela revista Veja em 19 de maio de 1999 causou polêmica em Maringá. Assinada pelo jornalista Mauricio Lima, a reportagem “Dallas no Paraná” compara o município com cidades norte-americanas do Texas e diz que os maringaenses estão longe de teatros e cinemas, pois preferem rodeios.  Naquele ano, Maringá contabilizava 285 mil habitantes e tinha planos para não ultrapassar os 400 mil.  A foto de abertura é de Valdir Carniel. 

“Poucas pessoas que olhem para a constelação de arranha-céus iluminados da foto no alto desta página imaginariam que ela apresenta uma cidade com pouco mais de cinquenta anos de existência. Afinal, a imagem sugere semelhança com Curitiba, Belo Horizonte e até com São Paulo. Pegue essa mesma foto e peça a opinião da empresária Carmem Panza, uma maringaense de 41 anos de idade. Orgulhosa e espontânea, ela dirá: ‘Não é igualzinha a Dallas?’. Carmem é a porta voz de um desejo mal disfarçado dos moradores dessa espécie de capital do noroeste do Paraná: ser uma extensão do Texas ou da Califórnia no Brasil. Maringá não tem interesse em imitar o destino das grandes capitais brasileiras. Maringá está mesmo mais perto do Texas que do Brasil. É o que mostram os índices socioeconômicos no gráfico ao pé da página”, inicia a matéria.

“Entre outros predicados, Maringá não tem favelas como tantas cidades médias do país. Na paulista Barretos, acontecem apenas dois homicídios por ano. A mineira Uberaba conseguiu a proeza de manter todas as crianças com mais de 7 anos na escola. Uberlândia apresenta índices de mortalidade infantil no padrão americano. Ribeirão Preto tem quase o dobro da renda per capita brasileira. Na comparação entre os cinco municípios, Maringá teve o melhor desempenho, reunindo pujança e qualidade de vida. Ao redor de Maringá existem 110 pequenas cidades, num total de 2 milhões de habitantes. Numa analogia direta com a texana Arlington, não fez feio em nenhum quesito e ainda se mostrou menos violenta que a rival americana. 

Maringá poderia candidatar-se a capital. São 285.000 habitantes e renda per capita de 7.000 dólares. As taxas de homicídio e analfabetismo estão entre as mais baixas do Brasil. Toda a população tem acesso a água encanada e coleta de lixo.

A riqueza de Maringá foi colhida nas safras de soja, café e algodão. Por ano, o município produz mais de 3 milhões de toneladas de grãos, ou 4% da produção nacional. Há 2 mil e 600 indústrias na região, quase todas ligadas ao setor agropecuário. Ainda há empregos nas agroindústrias do local. 

A acirrada concorrência exige profissionais qualificados. Em Maringá, o índice de analfabetismo é de apenas 4%, contra 16% da média brasileira. Já conta com cinco universidades e 77 cursos de pós-graduação, em que se destacam cadeiras como agronomia, veterinária e zootecnia. ‘As pessoas hoje querem falar inglês e estudar em áreas que tenham relação com a vocação rural da cidade’, diz o economista João Celso Sordi, da Universidade Estadual de Maringá”. 

A parte da reportagem que mais desagradou os maringaenses, foi essa: 

“Não espere encontrar cinemas e teatros por todo o lado. Na hora da diversão, são outras as atrações que fazem a festa dos habitantes. Existem três grandes eventos na agenda anual da cidade: um rodeio, uma feira agrícola e a escolha da Garota Country, um misto de concurso de miss com baile de debutante. É lá que as meninas da elite maringaense disputam a honra de ser a representante da cidade em meio a uma plateia típica de jogo de futebol. Elas gastam até 5.000 reais para se exibir em vestido de vaqueira. Neste ano, dez garotas competiram. Evelise Martins, 16 anos, foi a campeã. Ela ganhou um celular e uma viagem a qualquer lugar do Brasil. ‘Queria que o prêmio fosse uma viagem ao Texas’, revela Evelise.

 Além do manjado chapéu de caubói, outro acessório se destaca no figurino country da cidade: a caminhonete. Nas ruas de Maringá, 10% da frota é com posta de picapes. O pecuarista Paulo Sérgio Soares, 37 anos, é dono de cinco. Duas para a cidade e três para as fazendas. Para evitar problemas com o grande número de caminhonetes, a prefeitura desenhou vagas maiores que as das capitais brasileiras.

O Brasil de botinas e chapéu de couro se expande hoje pelas capitais regionais. Até pouco tempo atrás, o sonho dourado de quem morava no interior era mudar-se para uma grande capital. Hoje não é mais assim. Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, de 1998 mostrou que a população rural é a que mais aumenta no país. Em especial, atrai novos moradores um grupo de 181 cidades médias espalhadas pelo interior. 

Esses municípios estão crescendo 60% mais que a média nacional. A razão é uma inversão na corrente migratória. Tem mais gente indo morar no campo do que se dirigindo para as grandes cidades. Para evitar o inchaço que inviabilizou as metrópoles tradicionais, Maringá planeja coibir o crescimento. ‘A gente admite população até 400.000 habitantes, e só’, afirma Antonio Lorencete, da Secretaria de Indústria e Comércio. Pelos números atuais, ainda faltam 115 000 pessoas. Alguém se habilita?”, concluiu a matéria. 

Fontes: Revista Veja de 19 de maio de 1999 / Acervo do jornalista Marcelo Bulgarelli / Acervo Maringá Histórica.

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