Denominação das vias da Zona 3 (Vila Operária)

1947

Com texto de Marco Antonio Deprá

A Companhia de Terras Norte do Paraná – CTNP, empresa colonizadora de vasta área do Norte do Paraná, fundou a cidade de Maringá em 10/05/1947.

Elaborada pelo urbanista Jorge de Macedo Vieira, a planta original da cidade de Maringá previa a implantação de uma zona residencial denominada Zona 3 (Vila Operária), delimitada ao norte pela Avenida Mauá e a leste, sul e oeste pela Avenida Laguna, grande via em formato de parábola.

Com área de 69,55 alqueires paulistas (1.683.000,00 m²), a Vila Operária é cortada por cinco avenidas e quinze ruas e possui três praças implantadas ao longo da Avenida Riachuelo, que corta a região central do bairro, no sentido norte-sul.

Por ação do engenheiro russo Wladimir Babkov, funcionário do Departamento de Topografia da CTNP, as ruas da cidade de Maringá foram denominadas para lembrar fatos, lugares e personagens importantes da história. Porém, tal fato não está documentado e, até o momento, o Poder Público Municipal ainda não oficializou tais denominações, através de decretos ou leis.

Em sua maioria, as ruas e avenidas da Vila Operária foram denominadas para lembrar personagens, lugares e fatos ligados a conflitos envolvendo o Brasil e outras nações.

Exemplo disto são as Invasões Holandesas no Brasil, que ocorreram no século XVII, entre 1624 e 1654, com o objetivo de controlar a produção de açúcar no Nordeste brasileiro. Inicialmente, os holandeses invadiram Salvador, na Bahia, em 1624, mas foram expulsos no ano seguinte. Em 1630, concentraram seus esforços em Pernambuco, conquistando Olinda e Recife, e estabelecendo a Nova Holanda, que durou até 1654, quando foram expulsos após a Insurreição Pernambucana, uma revolta luso-brasileira que ocorreu entre 1645 e 1654, na região de Pernambuco, contra o domínio holandês. O conflito, também conhecido como Guerra da Luz Divina, foi motivado pelo desejo da população local de expulsar os invasores e restaurar o controle português sobre a região. Tais episódios são lembrados através das seguintes avenidas e ruas:

a) Rua Furtado de Mendonça, em referência a Diogo de Mendonça Furtado, que era o Governador-Geral do Brasil durante a primeira invasão holandesa, em 1624, quando Salvador foi tomada. Ele foi preso pelos holandeses e enviado como prisioneiro para a Holanda;

b) Rua Mathias de Albuquerque, em referência ao português que governou a Capitania de Pernambuco e que, em 1624, foi nomeado Governador Geral do Brasil, ocasião em que comandou a expulsão dos invasores holandeses de Salvador e deu início à restauração das fortificações da região; 

c) Rua Vidal de Negreiros, em referência a André Vidal de Negreiros, militar e governador colonial luso-brasileiro, que foi um dos líderes da Insurreição Pernambucana;

d) Rua Tabocas, em referência à Batalha do Monte das Tabocas, um confronto ocorrido em 03/08/1645, durante a Insurreição Pernambucana, que marcou a primeira grande vitória luso-brasileira contra os holandeses, abrindo caminho para a expulsão deles do Brasil. Através da Lei Municipal nº 771, de 08/09/1970, a denominação desta rua foi alterada para Madre Suely Alice Giron, religiosa e educadora que atuou em Maringá;

e) Rua Guararapes, em referência à Batalha dos Guararapes, confronto militar travado nos dias 18 e 19/04/1648 e em 19/02/1649, no Monte dos Guararapes, situado no atual município de Jaboatão dos Guararapes (PE), entre as forças portuguesas e holandesas, durante a Insurreição Pernambucana. Tal evento foi crucial para a expulsão dos holandeses da região e é considerado um marco na formação da identidade nacional brasileira; e

f) Rua Henrique Dias, em referência ao militar nascido no Brasil, filho de escravos libertos, que foi um dos heróis na Batalha dos Guararapes, episódio decisivo que provocou a expulsão dos holandeses do Nordeste Brasileiro.


Em vermelho, as ruas da Vila Operária que lembram as batalhas e personagens nos episódios das Invasões Holandesas no Brasil.

A Rua Anhanguera, possivelmente, faz referência a Bartolomeu Bueno da Silva, nascido em Santana de Parnaíba (SP), em 1672, e falecido em Vila Boa de Goiás (GO), em 19/09/1740. Conhecido como Anhanguera, era um bandeirante paulista que desempenhou um importante papel na exploração dos sertões, especialmente nos atuais territórios dos Estados de Goiás e Mato Grosso, contribuindo para a expansão territorial do Brasil, além dos limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas.

A Rua Pombal, possivelmente, faz referência a Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal), Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino de Portugal, entre 06/05/1756 e 04/03/1777, quando realizou reformas que tiveram grande impacto no Brasil e em Portugal. Durante a sua gestão, houve tentativas de resolver disputas territoriais entre as possessões dos reinos de Portugal e Espanha na América do Sul, principalmente na região do Rio da Prata. Isto seria resolvido com o Tratado de Santo Ildefonso, assinado pela Rainha D. Maria I em 01/10/1777, quando o Marquês de Pombal já havia deixado seu cargo no governo português.

A Rua Monte Cáceros, situada na região sul da Vila Operária, faz referência à Batalha de Monte Caseros, que ocorreu durante a Guerra Civil Argentina, quando o governo brasileiro apoiou Justo José de Urquiza, governador da província argentina de Entre Rios, resultando na queda do presidente argentino Juan Manuel de Rosas. A batalha ocorreu no dia 03/02/1852, na localidade de Caseros, próxima a Buenos Aires. As forças brasileiras foram comandadas por Luís Alves de Lima e Silva, à época Conde de Caxias.

A Avenida Paissandu, que corta a região central da Vila Operária no sentido leste-oeste, faz referência ao Cerco de Paysandú, episódio ocorrido entre 03/12/1864 e 02/01/1865, durante a Guerra Civil do Uruguai, quando as forças do Partido Colorado, sob o comando de Venâncio Flores e apoiadas por forças brasileiras, sob o comando do Marquês de Tamandaré, conquistaram aquela cidade uruguaia, episódio que foi fundamental para a conquista da capital Montevidéu, em fevereiro de 1865. Venâncio Flores assumiu a presidência do Uruguai em 20/02/1865.


Em azul, as ruas e avenidas da Vila Operária que lembram batalhas e personagens envolvidos em episódios nos quais o Brasil participou, na América do Sul.

A Guerra do Paraguai, também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança, foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América Latina, travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta pelo Império do Brasil, Argentina e Uruguai, estendendo-se de dezembro de 1864 a março de 1870. O episódio é lembrado através das seguintes avenidas e ruas:

a) Avenida Riachuelo, em referência à Batalha do Riachuelo, que ocorreu nas águas do Rio Paraná, próximo à foz do Rio Riachuelo, situado na província de Corrientes, na Argentina. Nessa batalha, o Brasil derrotou a marinha paraguaia, garantindo a liberdade de navegação na Bacia do Prata;

b) Avenida Laguna, em referência à "Retirada da Laguna", episódio da Guerra do Paraguai caracterizado pela retirada das tropas brasileiras do território paraguaio após uma campanha malsucedida, marcada por doenças e dificuldades logísticas;

c) Rua Aquidaban em referência ao Rio Aquidaban, às margens do qual morreu o presidente paraguaio Francisco Solano López, durante a Batalha de Cerro Corá, último confronto da Guerra do Paraguai. Esta rua também corta toda a Zona 1. Através da Lei Municipal nº 154, de 22/03/1961, a denominação desta rua foi alterada para Néo Alves Martins, em homenagem ao Deputado Estadual falecido em 12/02/1961, durante seu mandato;

d) Rua Marcílio Dias, que faz referência ao marinheiro negro, herói da Batalha Naval do Riachuelo, durante a Guerra do Paraguai;

e) Rua Barroso, em referência a Francisco Manuel Barroso da Silva (Almirante Barroso), que teve um papel crucial na Guerra do Paraguai, especialmente na Batalha Naval do Riachuelo, onde liderou a vitória brasileira;

f) Rua Inhaúma, em referência a Joaquim José Inácio (Visconde de Inhaúma) importante almirante da Marinha Imperial Brasileira, que liderou a frota nacional durante a maior parte do conflito; e

g) Rua Itapura, em referência à cidade paulista localizada na confluência dos rios Tietê e Paraná, que teve um papel importante na Guerra do Paraguai, funcionando como um posto militar estratégico para a defesa nacional e o embarque de tropas.


Em amarelo, as ruas e avenidas da Vila Operária que lembram as batalhas, lugares e personagens da Guerra do Paraguai.

A Avenida Brasil corta boa parte da cidade no sentido leste-oeste e, portanto, não deve ser considerada como uma via específica da Vila Operária.

Os demais logradouros da Vila Operária homenageiam importantes personagens brasileiros e paranaenses:

a) Rua Santos Dumont, que corta as Zonas 1 e 3 no sentido leste-oeste, faz referência a Alberto Santos Dumont, nascido em 20/07/1873 em Palmira, atual município de Santos Dumont (MG), e falecido em Guarujá (SP), em 23/07/1932. Aeronauta, esportista e inventor brasileiro, é considerado o “Pai da Aviação”;

b) Avenida Mauá, que é a divisa norte da Vila Operária, faz referência a Irineu Evangelista de Sousa (Visconde de Mauá), que nasceu em Arroio Grande (RS), em 28/12/1813, e faleceu em Petrópolis (RJ), em 21/10/1889. Foi um industrial, comerciante, armador, fazendeiro e banqueiro brasileiro, que muito contribuiu para a industrialização do país. Esta avenida também se estende por uma parte da Zona 1; 

c) Praça Regente Feijó, que faz referência a Diogo Antônio Feijó, nascido em São Paulo (SP), em 17/08/1784, e falecido em São Paulo (SP), em 10/11/1843. Foi um filósofo, sacerdote católico e estadista brasileiro. Foi Ministro dos Negócios, Ministro da Justiça, Presidente do Senado e Regente do Império do Brasil;

d) Praça Emiliano Perneta, que faz referência a Emiliano David Perneta, nascido em 03/01/1866, em Curitiba, e falecido em 19/01/1921, em Curitiba. Foi um advogado, promotor de justiça, jornalista, professor e poeta brasileiro. É considerado o maior poeta paranaense em seu tempo;

e) Praça Monsenhor Celso, que faz referência a Celso Itiberê da Cunha, nascido em Paranaguá, em 11/09/1849, e falecido em Curitiba, em 11/07/1930. Ordenado sacerdote em 20/07/1873, Monsenhor Celso foi nomeado cura da Catedral de Curitiba, em 1900. Em 1905, foi designado como vigário geral da Diocese de Curitiba e, logo em seguida, promovido a Cônego Honorário da então Catedral Metropolitana de Curitiba. Durante sua vida, desempenhou atividades apostólicas com intensa bondade, fundou igrejas e capelas e ajudou materialmente os mais necessitados. Através de Lei Municipal nº 3386, de 14/06/1993, seu nome foi alterado para Pioneiro Fiori Progiante, nascido em 18/06/1926, na cidade de Cândido Mota (SP). Chegou a Maringá em 1950 e, em 1952, foi sócio fundador da empresa Ouro Verde – Indústria e Comércio de Bebidas Ltda., que por muitos anos funcionou na Avenida Mauá, na Zona Armazéns. Faleceu em 11/02/1991.


As três praças da Vila Operária, instaladas ao longo da Avenida Riachuelo, que corta o bairro no sentido norte-sul.


Ruas e avenidas de outras regiões de Maringá, que passam pela Vila Operária: Av. Brasil (em vermelho); Avenida Mauá (em verde); Rua Santos Dumont (em amarelo); e Rua Néo Alves Martins, antes denominada Rua Aquidaban (em azul).

Texto revisado por Flávio Augusto de Carvalho.

Fontes: acervo e contribuições de Marco Antonio Depra / Google Earth / Acervo Maringá Histórica. 

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