Benno Wagner – Pequena biografia

1955

Com texto de Marco Antonio Deprá

Benno Wagner – Pequena biografia de um religioso e professor gaúcho que cruzou o mundo, amassou o barro vermelho de Maringá e prestou assistência à Colônia Japonesa na região. 

Benno Wagner nasceu em 23/01/1922 na localidade denominada Picada Francesa, no município de Taquara, no Rio Grande do Sul, filho de Maria Magdalena Schmidt, nascida em São Leopoldo (RS) e Jacob Ferdenando Wagner, nascido em Taquara (RS), ambos descendentes de alemães.


Em amarelo o mapa do Rio Grande do Sul com a localização da Picada Francesa, localidade de nascimento de Benno Wagner, e de Porto Alegre, capital do Estado.

Em 1935, com 13 anos de idade, seus pais o levaram para o então Pontifício Ateneu Cristo Rei, na cidade de São Leopoldo (RS), onde foi orientado pelos mestres jesuítas da Companhia de Jesus, frequentou o ensino regular e os cursos de literatura e línguas estrangeiras.


Em amarelo o território do município de Taquara e as localizações da sede municipal de Taquara, da Picada Francesa onde Benno nasceu, de São Leopoldo, onde ele realizou seus estudos e de Porto Alegre, capital do Estado.

Em 28/02/1941, com 19 anos de idade, Benno Wagner foi admitido na Companhia de Jesus em São Leopoldo (RS), emitindo seus primeiros votos nessa congregação em 07/02/1943.

Em março de 1945, iniciou o curso de filosofia em São Leopoldo, concluído em março de 1948.


Frei Benno Wagner em 21/04/1948, com 26 anos de idade. Acervo da Companhia de Jesus no Rio de Janeiro (RJ).

Em maio de 1948, então com 26 anos de idade, juntamente com os seus colegas missionários jesuítas Sebaldo Bruxel, Arcádio Schwade e Leopoldo Webere, Benno Wagner foi para Tóquio, no Japão, onde cursou dois anos de língua e cultura asiáticas na Universidade Sophia e mais dois anos de estágio em diversos estabelecimentos de ensino. Foram os primeiros brasileiros a obterem autorização para viajar ao Japão, até onde se encontrou registro, após a Segunda Grande Guerra Mundial. A Universidade Sophia é uma instituição de ensino superior privada e católica localizada no distrito japonês de Chiyoda, em Tóquio. Fundada em 1913 por jesuítas, recebe alunos de diversos países.


Mapa do Japão com a localização da capital Tóquio, onde se localiza a Universidade Sophia, da Companhia de Jesus.


Fotografia de 25/07/1948. Benno, à direita, escreve no verso da imagem: “em passeio com um amigo japonês, rapaz de 18 anos, ainda pagão. No verão, os missionários residentes no Japão andam com fatiota branca. A única coisa que os distingue é o colarinho preto. É proibido em todo o Japão sair de casa de batina.” Acervo da Companhia de Jesus no Rio de Janeiro (RJ).

Em novembro/1948, durante sua estada no Japão, Benno Wagner visitou o Colégio Católico das Esclavas Del Sagrado Corazón, em Yokosuka, na Província de Kanagawa, instituição católica de ensino criada em 1947. Nessa época, ele estava residindo em Taura, localidade situada nesse município.


Mapa da região de Tóquio, no Japão, com a localização de Yokosuka e Taura.

Após atuar como missionário no Japão por cerca de três anos, onde se aperfeiçoou nos idiomas inglês e japonês, Benno voltou ao Brasil aportando no país em 31/03/1951.

Entre os anos de 1951 e 1953 estudou teologia no Colégio Cristo Rei em São Leopoldo (RS). Durante este período escreveu diversos artigos em português e alemão relatando suas experiências no Japão.

Benno tinha boas noções dos idiomas grego, hebraico, alemão, japonês, inglês, francês e espanhol.

Em 03/12/1953, em São Leopoldo (RS), Benno Wagner recebeu a ordenação sacerdotal das mãos de Dom Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre.

No primeiro semestre de 1954, Benno Wagner esteve em Curitiba (PR), junto com os jesuítas Edmundo Henrique Dreher, Kuno Paulo Rhoden e Valério Alberton, participando dos preparativos para a criação do Colégio Nossa Senhora Medianeira na capital paranaense, por iniciativa da Companhia de Jesus. A pedra fundamental do edifício do colégio seria lançada em 31/03/1954 e sua inauguração oficial deu-se três anos depois, no dia 24/02/1957, pelas mãos do padre Oswaldo Casado Gomes.

Em seguida, Benno Wagner viajou pelo norte do Estado do Paraná, onde a Companhia de Jesus estava pleiteando a administração de uma nova paróquia na cidade de Maringá. Foi neste contexto que escreveu o artigo intitulado “Pelas estradas poeirentas do Paraná”.

Em agosto de 1954, Benno viajou para a Alemanha, onde realizou estudos superiores em psicologia e pastoral na cidade Münster.


Em 1954, o território alemão estava dividido em duas partes: a República Democrática Alemã (verde), com capital em Berlim; e a República Federal da Alemanha (amarelo), cuja capital era Bonn.

Em 23/08/1955, Benno Wagner chegou de volta ao Brasil e seguiu para Maringá (PR) dando início às suas atividades como padre com ênfase à assistência social e religiosa às numerosas famílias japonesas que habitavam a região. Foi bem recebido pelo padre alemão João Janssem, que no período de 07/10/1951 a 11/09/1955 foi pároco da Paróquia Santíssima Trindade de Maringá, que em 05/08/1952, por decreto de Dom Geraldo de Proença Sigaud, bispo diocesano de Jacarezinho (PR), teve seu nome alterado para Paróquia Nossa Senhora da Glória.

Com a transferência do padre João Janssem para Astorga (PR), a partir de 11/09/1955 Benno Wagner passou a atuar como pároco da Paróquia Nossa Senhora de Glória, permanecendo no cargo por apenas dois meses, até 20/11/1955. Foi sua primeira experiência paroquial. Sua atuação teve como coadjutores os padre Jesuítas Osvaldo Pedro Rambo e Bruno Pedro Rabuske, que tinham como missão atender as 25 capelas que compunham a paróquia.

A partir de 20/11/1955, padre Benno Wagner foi transferido para a Paróquia São José Operário, onde passou a ocupar o cargo de pároco em substituição ao padre Jesuíta Agostinho Klingen, primeiro pároco daquela paróquia, de 15/08/1954 a 29/10/1955. Benno ocuparia este cargo até 01/01/1957.

A Paróquia São José Operário havia sido criada em 14/08/1954 por Dom Geraldo de Proença Sigaud, bispo diocesano de Jacarezinho, tendo os jesuítas como seus administradores. O propósito da Companhia de Jesus era criar em Maringá um centro de assistência social e religiosa às numerosas famílias japonesas que vinham se estabelecendo na cidade, que já contava com a Associação dos Japoneses de Maringá, fundada em 18/06/1947 por 65 famílias de origem japonesa, entidade que criou e mantinha a Escola de Língua Japonesa.


O território da Paróquia São José Operário (em vermelho) originalmente abrangia partes dos atuais municípios de Maringá (verde), Sarandi (azul) e Marialva (amarelo).

No município de Maringá, o território da Paróquia São José Operário originalmente abrangia o território das atuais paróquias:

- Santo Antônio de Pádua, criada em 28/10/1960;
- Divino Espírito Santo, criada em 18/12/1969;
- São Miguel Arcanjo, criada em 23/11/1975;
- São Francisco de Assis, criada em 15/12/1978;
- Sagrado Coração de Jesus, criada em 10/02/1980;
- Nossa Senhora da Liberdade, criada em 01/02/1995;
- São Mateus Apóstolo, criada em 22/02/1997;
- São Bonifácio, criada em 20/12/1998;
- Nossa Senhora do Rosário, criada em 17/10/2008;
- Santa Clara, criada em 11/02/2017.

A Paróquia São José Operário, com sede na Vila Operária, abrangia a área da cidade onde residia grande parte dos membros da Colônia Japonesa de Maringá, onde também estavam instaladas duas de suas entidades representativas: a Associação dos Japoneses de Maringá; e a Sociedade Cultural e Esportiva de Maringá – Socema, que em dezembro/1972 se fundiriam para formar a atual Associação Cultural e Esportiva de Maringá – ACEMA.


Parte do território da Paróquia São José Operário de Maringá, onde boa parte da Colônia Japonesa residia.

Durante sua permanência em Maringá, padre Benno foi diversas vezes prestar assistência à Colônia Esperança onde seu amigo Frei Graciano Droessler, dedicado apóstolo Franciscano, desenvolvia uma esplêndida obra colonizadora, principalmente entre católicos provindos de Nagazaki, no Japão. Na mesma época, padre Benno também prestava assistência ao núcleo nipônico residente em Floresta (PR), então distrito do município de Maringá. Importante salientar que na década de 1950 a região ainda era servida por precárias estradas de terras, o que dificultava muito o trânsito de veículos.


Mapa do Norte do Paraná com a localização dos núcleos nipônicos Colônia Esperança e Floresta, atendidos pelo padre Benno Wagner.

De acordo com relatos do padre Benno, foi ele quem entrou em contato com a Congregação das Missionárias do Santo Nome de Maria, na Alemanha, convidando religiosas daquela instituição para virem a Maringá instalar uma escola. Ele já as havia conhecido em Osnabrück, na Alemanha, onde pregara na Casa Mãe daquela entidade, fundada em 25/03/1920. O dinheiro para as passagens das primeiras irmãs foi obtido através das obras de Assistência Social "Misereor" e "Adveniat", com sede em Bonn, na Alemanha. As seis primeiras irmãs chegariam a Maringá em 12/07/1956, onde fundariam a Escola Santo Inácio, precursora do atual Colégio Santo Inácio. De acordo com relato de Benno Wagner, o terreno original da escola foi doado por Ênio Pepino, sócio proprietário da Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná Ltda. – SINOP. O objetivo principal das religiosas era o trabalho pastoral paroquial, enfermagem e educação.

Em julho de 1956, Benno Wagner deu início ao ciclo de eventos de inauguração da Sede da Juventude da Vila Operária e da Casa das Irmãs.

Como pároco da Paróquia São José Operário, padre Benno Wagner também colaborou nos esforços de manutenção e ampliação da Santa Casa de Maringá, instalada dentro do território de sua paróquia. O estabelecimento hospitalar teve como embrião o Ambulatório Nossa Senhora de Fátima, inaugurado em 14/08/1954 e que contava com a colaboração dos Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora, que haviam chegado a Maringá em 18/09/1953. A instituição era mantida pela Sociedade Civil e Beneficente Santa Casa de Misericórdia de Maringá, fundada em 12/06/1954 durante a gestão do bispo de Jacarezinho Dom Geraldo de Proença Sigaud (01/05/1947 a 20/12/1960) e do padre João Janssen (07/10/1951 a 11/09/1955), da Paróquia Nossa Senhora da Glória.


Folha do Norte do Paraná, edição de 14/08/1974 – Visita do governador do Estado do Paraná Moysés Lupion à Santa Casa em 22/09/1956, quando esteve na cidade para a inauguração do Grande Hotel de Maringá, empreendido pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná - CMNP. Dentre os presentes, destacam-se:

1. Padre Carlos Giebel, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Glória;
2. Dom Geraldo de Proença Sigaud, bispo de Jacarezinho e Chanceler da Santa Casa;
3. Hermann Moraes Barros, diretor-gerente da CMNP;
4. Hermínia Holim Lupion, esposa do governador do Paraná;
5. Cássio da Costa Vidigal, presidente da CMNP;
6. Ney Braga, prefeito de Curitiba e futuro governador do Paraná;
7. Moysés Lupion, governador do Paraná;
8. Padre Benno Wagner, pároco da Paróquia São José Operário.

Acervo da Gerência do Patrimônio Histórico, da Secretaria Municipal de Cultura de Maringá.

Padre Benno também prestou assistência à Colônia Japonesa na região do atual município de Ubiratã (PR). Em 19/02/1956 celebrou a primeira missa na região, por ocasião do lançamento da Pedra Fundamental da Vila Ubiratã. A Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná Ltda. – SINOP havia começado a desbravar e colonizar a região de Ubiratã em 1954. Mensalmente, padre Benno viajava no avião de propriedade daquela empresa colonizadora para atender aos fieis católicos naquela região.

Por sugestão do padre Benno, a SINOP destinou uma área de 40 alqueires para a constituição de um centro de apoio aos imigrantes japoneses, que foi denominada de Colônia Santo Inácio. Derrubada a mata e feita a queimada, o empreendimento teve início ainda em 1956.


Mapa do Paraná com a localização da Colônia Santo Inácio, situada no atual município de Ubiratã.

De acordo com relatos de Benno Wagner, a Província dos Jesuítas decretou constituir nessa área uma lavoura de café para o seu sustento próprio. Benno divergiu desta decisão criando um conflito de interesses. A decisão da Província acabou prevalecendo e a Colônia Santo Inácio de Ubiratã virou uma fazenda dos Jesuítas. Mais tarde, a área foi loteada e vendida.

Benno Wagner relata em seu livro “Maringá Cidade-Canção – Volta às Raízes VI” que em meados de 1956 recebeu uma carta da sede da Companhia de Jesus, em Roma, que declarava que ele tinha feito indevida apropriação de terras e que estava removido de seu cargo determinando que ele voltasse de imediato para o Japão. Sentindo-se injustiçado, padre Benno acatou a decisão e desligou-se da Paróquia São José Operário no dia 01/01/1957, sendo substituído como pároco pelo padre Osvaldo Pedro Rambo, também jesuíta.

Interessante registrar que, apesar da Diocese de Maringá ter sido criada em 01/02/1956, Dom Jaime Luiz Coelho, seu primeiro bispo, somente iria tomar posse em 24/03/1957, depois da partida do padre Benno para o Japão.

Em 25/06/1958, por ocasião das comemorações do cinqüentenário do início da imigração japonesa para o Brasil, Dom Jaime criou em Maringá a Missão Católica Nipo-Brasileira. Em 25/11/1958 chegaria a Maringá o padre japonês Miguel Yoshimi Kimura, que deu continuidade ao legado deixado pelo padre Benno Wagner na assistência espiritual às famílias da Colônia Japonesa de Maringá e região.

Benno Wagner chegou de volta ao Japão no dia 23/03/1957 e se apresentou em Tóquio ao provincial da Ordem padre Pedro Arrupe que o nomeou vigário na cidade de Onoda (hoje denominada Sanyo-Onoda), situada na Província de Yamaguchi, no Sul do Japão.


Mapa do Japão com a localização da atual cidade de Sanyo-Onoda e de Tóquio, capital do país.

Na edição de 07/11/1959 do Jornal do Dia, de Porto Alegre (RS), há uma carta ao editor do jornal em que Benno Wagner relata seu trabalho missionário na cidade de Onoda, no Japão, onde construiu um Jardim de Infância no bairro denominado Takachiho.


Padre Benno Wagner com crianças do Jardim de Infância – Abril de 1958 – Acervo da Companhia de Jesus.

Com 40 anos de idade, após cinco anos como pároco em Onoda, Benno apaixonou-se pela catequista Teruyo Suzukawa, nascida em Kioto, no Japão, no dia 18/01/1927 filha de Naru Suzukawa (mãe) e Dansuke Suzukawa (pai), ambos nascidos em Yamaguchi, Japão. A partir de então, Benno e Teruyo dariam início a uma nova vida, no Brasil.

Ao sair sozinho do Japão, Benno visitou amigos nas cidades alemãs de Bonn, Düsseldorf, Osnabrück e Münster. Depois viajou para o Brasil para receber Teruyo no Porto de Santos.

Em 07/05/1962, Teruyo se registrou no Consulado Geral do Brasil na cidade japonesa de Kobe. Contava 35 anos de idade e estava grávida da primeira filha. Em sua Ficha Consular de Qualificação constava como profissão catequista. Ao chegar ao Brasil em 10/07/1962, foi recebida por Benno que já a estava aguardando no Porto de Santos (SP).


Imagem de Teruyo Suzukawa na Ficha Consular de Qualificação datada de 07/05/1962.

Já no Brasil, Benno e Teruyo foram residir no município de Mafra (SC), vizinho ao município paranaense de Rio Negro. Benno havia sido encarregado pelos bispos do Japão para fundar uma cooperativa e adquirir terras no município de Mafra, para serem destinadas à formação da Colônia Uracami, onde seriam assentados imigrantes japoneses.


Localização das cidades de Rio Negro (PR) e Mafra (SC), separadas pelo Rio Negro, afluente do Rio Iguaçu.

Em 22/01/1963 nasceu em Rio Negro (PR) Maria Madalena, a primeira filha do casal Teruyo e Benno.

Em 08/02/1964, Benno Wagner pediu demissão da Companhia de Jesus, sendo dispensado em 22/03/1964. Somente em 25/02/1970 a sua laicização seria concedida.

Em 1965, frustrada a iniciativa de fundar a Colônia Uracami, Benno, a esposa e sua filha transferiram residência para Curitiba (PR).

O casamento civil entre Benno e Teruyo foi realizado em Curitiba (PR), no dia 14/10/1967.

Em 15/12/1967 nasceu em Curitiba (PR) Beno Fernando, segundo filho do casal Teruyo e Benno.

Em 17/12/1968, Benno enviou carta ao Papa Paulo VI pedindo autorização para seu casamento religioso. O Concílio Vaticano Segundo, realizado entre 11/10/1962 e 08/12/1965, já havia liberado o casamento dos padres católicos em determinadas circunstâncias e com as devidas dispensas. Desde 1965, no mundo todo, já havia cerca de 100 mil padres católicos que optaram pelo matrimônio.

Em 1969, Benno estava residindo em Curitiba (PR), desempregado, com esposa e dois filhos pequenos. Aproveitou a situação para normatizar seus créditos universitários e frequentar durante três anos os cursos de História e Sociologia na Universidade de São Paulo – USP, na capital paulista. 

Após seu retorno a Curitiba, estabeleceu-se como vendedor a domicílio da Enciclopédia Barsa. Foi nesta circunstância que esteve de volta a Maringá (PR), onde se encontrou com o professor Heráclito Santana, à época diretor do Colégio Vital Brasil, que lhe ofereceu trabalho como professor. A mãe do professor Heráclito havia sido cozinheira do padre Benno, quando este era pároco da Paróquia São José Operário, nos anos 1950.

De volta a Maringá, agora com esposa e dois filhos, Benno ministrou aulas nos Colégios Vital Brasil e Gastão Vidigal.

Ainda em 1969, Katsuzo Fujiwara, presidente da ACEMA, entidade que mantinha a Escola Mista São José, convidou Benno para assumir a direção daquele estabelecimento de ensino. Sua esposa Teruyo, então já conhecida como Tereza, que havia cursado teologia em nível superior no Japão, também foi convidada para ser professora de língua japonesa na escola.

Naquela época, além da escola matriz situada na Rua Evaristo de Veiga, nº 93, na Zona 7, havia uma unidade filial situada na Rua Joaquim Nabuco, nº 338, na Zona 4, onde era ofertado o curso pré-escolar.

Esse estabelecimento de ensino havia sido criado em 1949 com o nome de Escola de Língua Japonesa de Maringá. Com o passar dos anos, a Colônia Japonesa sentiu a necessidade de transformar o estabelecimento em uma escola regular de ensino primário destinada aos filhos e netos dos japoneses residentes em Maringá. Foi desta forma que em 15/02/1960 lideres da Colônia Japonesa procuraram o bispo Dom Jaime Luiz Coelho, que tinha prestígio junto ao Governo Estadual, visando obter a autorização da Secretaria de Estado da Educação para tal fim. A proposta foi aceita pelo governo e, por sugestão de Dom Jaime, o estabelecimento passou a denominar-se Escola Mista São José, visto que estava localizada no território da Paróquia São José Operário e, além de oferecer o ensino primário, também disponibilizava curso de língua japonesa. A partir de então, Issao Hiratomi passou a ocupar o cargo de secretário da escola e Midufo Vada o cargo de coordenador de ensino. Em 15/03/1964 foi inaugurado o novo prédio da escola, em alvenaria. No ano seguinte, a Escola Mista São José obteve autorização para implantar o curso ginasial, equivalente às atuais 5ª a 8ª séries do ensino fundamental.

Em 01/07/1969 nasceu em Maringá (PR) Beno Jacob, terceiro e último filho de Teruyo e Benno. 

Quando Benno assumiu a direção da Escola Mista São José, o estabelecimento era apenas uma pequena escola de ensino fundamental, que também oferecia o curso de língua japonesa à parte. Empossado na direção, logo teve a ideia de transformá-la em uma Escola Técnica.


Fotografia e assinatura de Benno Wagner em 18/03/1971. Acervo da Universidade Estadual de Maringá - UEM.

No Conselho Estadual de Educação, Benno propôs e conseguiu a mudança do nome de Escola Mista São José para Centro Técnico Educacional São José com os cursos a nível técnico de quatro anos em Eletrônica e Eletrotécnica.

Benno atuou com afinco para angariar novos professores para a escola, Dentre outros, pode-se citar os seguintes:

- Manuel Gomes: língua e cultura geral;
- Raul Pimenta: língua e cultura geral;
- Teruhissa: eletrostática e química;
- Dr. Paulo, engenheiro da Telepar: eletrônica;
- Dr. Luiz, engenheiro da Copel: eletrotécnica;
- Osvaldo Boso: matemática e ciências;
- Thomé: artes.

Como secretário da escola, Benno Wagner nomeou um ex-padre argentino que havia atuado na Diocese de Apucarana, cidade distante 60 km de Maringá.

Além do curso técnico, o Centro Técnico Educacional São José manteve o ensino fundamental e o curso de língua japonesa. O curso técnico em nível de segundo grau era ofertado no período noturno. A instituição tinha um total de 650 alunos e corpo docente com cerca de 40 pessoas. 

Após receber autorização do Vaticano, Benno e Teruyo se casaram no dia 01/04/1970. A cerimônia religiosa foi celebrada pelo bispo Dom Jaime Luiz Coelho, em sua capela particular, localizada na residência episcopal, então situada na Rua Lopes Trovão, na Zona 4.

Em 1970, Benno Wagner exerceu a presidência da Associação dos Professores de Maringá.

Durante a década de 1970, sua esposa Teruyo tocava órgão durante as missas na Catedral, no período em que o padre Sidney Luiz Zanettini era o pároco. De 1970 a 1974, concomitantemente às suas atividades no Centro Técnico Educacional São José, Benno Wagner lecionou a disciplina Estudos Sociais no Colégio Técnico Comercial de Maringá, em nível de 2º grau. 

Também lecionou a disciplina Estudos de Problemas Brasileiros – EPB na Universidade Estadual de Maringá – UEM, de 01/08/1973 a 27/01/1975. Quem lhe abriu as portas da instituição foi o padre Sidney Luiz Zanettini, também professor na UEM.

Benno e família tinham grandes amizades com membros da Colônia Japonesa de Maringá, como a família Kubota, por exemplo.

Em 1978, o Centro Técnico Educacional São José já estava em pleno funcionamento ofertando os cursos técnicos de Eletrônica, Eletrotécnica e Eletricidade em nível técnico. O curso preparatório para o vestibular já estava em fase de implantação. Devido a problemas de saúde e à frustração do plano de transformar a instituição em uma faculdade, Benno Wagner, então com 56 anos de idade, decidiu deixar Maringá e passar a residir em Curitiba com a esposa e os filhos.

Em 12/10/1980, quando da inauguração da nova sede da ACEMA situada na Avenida Kakogawa, teve início um processo de venda dos imóveis de sua antiga sede. Foi assim que o campo de beisebol, por exemplo, foi ocupado pelo Jardim Acema, que foi aprovado pela prefeitura em 26/01/1981. As instalações do Centro Técnico Educacional São José passaram a ser ocupadas sucessivamente pelo Colégio Poli, Colégio Graham Bell e, finalmente, pelo Colégio Interação, que se mantém em atividade.

Em 02/04/1982, o prédio da antiga filial da Escola Mista São José situado na Rua Joaquim Nabuco, nº 338, na Zona 4, passou a ser ocupado pela Pré-Escola Míriam Leila Palandri, que anteriormente estava instalada na Praça Napoleão Moreira da Silva. 

Para ocupar a lacuna criada com o fim do curso de língua japonesa do Centro Técnico Educacional São José, foi criado em 17/08/1982 na UEM o Instituto de Estudos Japoneses, com a finalidade de atender à comunidade universitária em forma de apoio às suas atividades de ensino, pesquisa e extensão e à comunidade em geral, promovendo a integração universidade-sociedade, através de atividades relacionadas à língua e cultura japonesas.

Em 2000, aos 78 anos de idade, Benno Wagner publicou um livro autobiográfico intitulado “Maringá Cidade-Canção – Volta às Raízes VI, em que relata suas passagens por Maringá.


Fotografia de Benno Wagner impressa na orelha de seu livro “Maringá Cidade-Canção – Volta às Raízes VI”, publicado no ano de 2000.

Benno Wagner faleceu no dia 08/10/2009, em Curitiba, aos 87 anos de idade, após lutar vários meses contra um câncer de esôfago. Nos últimos anos, administrava uma pousada de sua propriedade, além de publicar livros que contam sua história. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Jardim da Saudade I. À época estava residindo na Rua Valentin Nichele, nº 122, no Bairro Pinheirinho, na capital paranaense.


Cartão do funeral de Benno Wagner – Acervo: Companhia de Jesus.

Sua esposa, Teruyo (Tereza) Wagner, faleceu no dia 03/12/2019, aos 92 anos de idade. Seu corpo também está sepultado no Cemitério Jardim da Saudade I, em Curitiba.

Fontes:
- Acervo da Gerência do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura de Maringá;
- Arquivo da Companhia de Jesus no Rio de Janeiro (RJ);
- Arquivo da Universidade Estadual de Maringá – UEM;
- Depoimentos da Maria Madalena Wagner;
- Hemeroteca da Biblioteca Nacional;
- Livro: A Igreja de Brotou da Mata, do padre Orivaldo Robles;
- Livro: Maringá Cidade-Canção – Volta às Raízes VI, de Benno Wagner
- Site: https://www.familysearch.org/pt/.

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