A cena é de “A Exceção e a Regra”, de Bertold Brecht, encenada no Teatro Oficina da UEM em 1998. O espetáculo comemorava os 10 anos de atividades do grupo teatral.  A mesma peça havia sido encenada em 17 de dezembro de 1987, um ano antes da inauguração do equipamento cultural da universidade.

Em junho de 1998, um artigo publicado pela Revista Universidade e Sociedade, mostrou a importância daquele que seria o primeiro teatro da cidade. 

“Há dez anos (1988) a Universidade Estadual de Maringá dava um presente para a cidade de Maringá, que seria registrado historicamente como o primeiro espaço de teatro universitário oficial do interior do Estado. O grupo, que emergiu junto com o teatro, não era o primeiro da UEM, mas seria notabilizado como um dos melhores.

Hoje, comemorando 10 anos de atividades, o grupo volta a ensaiar e trabalhar em uma peça que marcará a festa de aniversário do Teatro Oficina da UEM: ‘A Exceção e a Regra’, de Brecht, que fez brilhar o teatro da UEM e de Maringá no Paraná e no Brasil. 

Na verdade, a Universidade Estadual de Maringá sempre teve um forte envolvimento com o teatro. Engatinhou com os trabalhos do professor Valter Pedrosa, na década de 70; teve sua adolescência numa época marcada pela falta de estrutura, quando o mesmo professor conseguiu fazer um teatro de alta qualidade, ganhando repercussão estadual com peças como ‘O Transe’, de forte cunho psicológico; ‘O Jumento e o Capataz’, que denunciava a miséria e a semiescravidão do povo brasileiro (numa época em que cochichar era crime), ‘As Aventuras de Tio Valter e Dundé’, dirigida às crianças, e tantos outros trabalhos que marcaram a vida teatral do interior do Paraná; e se tornou adulto no final da década de 80, quando o professor Eduardo Montagnari assumiu a direção do setor e, determinado, iniciou a construção da Oficina de Teatro. 

O sociólogo Eduardo Montagnari logo se destacou por suas ligações com o teatro. Tinha experiência no ramo. Havia participado de grupos teatrais no interior e na capital paulista e fez parte do Teatro Oficina de São Paulo. Acabou convidado a dirigir o grupo de teatro da UEM.

‘Quando vi o grupo ensaiando numa sala pequena, do bloco 25, apertada entre salas de aulas, com cursos de música, artesanato etc., tudo misturado, minha primeira ideia foi arranjar um espaço’, conta Montagnari. ‘A chance de conseguir o espaço surgiu quando fui convidado pelo então reitor Fernando Ponte de Souza, para assumir a Diretoria de Cultura. Na mesma época foi contratado o professor Luthero Renato de Almeida e logo em seguida veio o Pedro Ochôa, e iniciamos um projeto arrojado para a época. Conseguimos uma promessa de que parte do prédio da antiga creche seria destinada ao teatro. O bloco era dividido em quatro salas por uma divisória baixa, que não isolava acusticamente e nem dava condições de trabalho. Mesmo assim, para lá iria o teatro, a música, a dança, a pintura, enfim, todos os cursos culturais da UEM’.

‘Vendo que seria inadequado, resolvi mudar o projeto: pedi a retirada da creche do local, arrumamos espaços para a Casa da Música, da dança etc., e no local da creche, iniciamos um verdadeiro mutirão, para a construção de um espaço apropriado para o teatro. As obras duraram 8 meses e, neste mesmo tempo, ensaiamos a peça ‘A Exceção e a Regra’, de Brecht, que estreou no dia da inauguração da Oficina de Teatro da UEM, em 17 de dezembro de 1987. A peça seria conhecida nacionalmente, ganharia vários prêmios, e a Oficina de Teatro da UEM seria o primeiro teatro da cidade. Só anos depois foi construído o Teatro Banestado (hoje Barracão) e, mais recentemente o teatro Calil Haddad’.

Enfrentando a chuva, a escuridão e a lama do caminho sem asfalto, que levava ao teatro, uma multidão, para os padrões da época, esteve presente na inauguração do Teatro Oficina, coroando o trabalho das pessoas envolvidas com a criação. E nascia ali um grupo forte, vencedor de festivais nacionais, como o de Blumenau (três prêmios), de Canela etc.

UM POUCO DA HISTÓRIA

O caderno de apresentação do Teatro Universitário de Maringá, trazia uma declaração de Montagnari, que ajudava a ilustrar o que foi o trabalho que gerou o primeiro espaço teatral da cidade. Dizia ele: ‘(...) o Grupo de Teatro Universitário de Maringá nasceu junto com o projeto Oficina de Teatro da UEM em 1987. A construção de um espaço destinado à investigação teatral implicava na organização de um grupo e na formação de seu público. Desde então, o Grupo de Teatro Universitário vem trabalhando para fazer um teatro que implique uma experiência necessária e uma atividade social.’

‘O resultado aqui e assim apresentado, dependeu tanto do empenho dos amadores que integram o grupo, que a partir de agora passa a se chamar Grupo de Teatro Universitário de Maringá, como dos profissionais, técnicos e operários que se envolveram na realização deste Teatro, palavra que entre os seus vários significados quer dizer tanto "o lugar onde se vê", como por metonímia, "aquilo que nele se vê". Particularmente, não sei o que podemos fazer pelo Teatro, vislumbro apenas o que o Teatro pode fazer por nós e certamente, a escolha de "A Exceção e a Regra" é um bom começo, ainda que muito nos tenha custado. Qualquer incursão ou discussão sobre teatro, necessariamente precisa levar em conta o legado de Bertolt Brecht’. Assim, através do "Grupo de Teatro Universitário de Maringá", julgar "o que acontece e torna a acontecer" fica sendo aqui e agora uma tarefa para você especta-a-dor". (Eduardo, Maringá, novembro, 1987).

OBJETIVOS

Os objetivos perseguidos por este projeto são assim agrupados: a) Quanto ao Espaço: Possibilitar ao Grupo de Teatro Universitário o abandono do improviso. O espaço, não sendo um edifício teatral tradicional, oferece condições para a experimentação variada, proposta por cada trabalho em particular. b) Quanto ao Grupo: Oportunizar a formação de um grupo de atores (acadêmicos, não acadêmicos oriundos da comunidade em geral, servidores etc.). 

Um grupo que reúna diferentes histórias de vida que, em conjunto, possa dedicar-se ao aprendizado e exercício das técnicas e do manejo da arte cênica em todas as suas variantes (desde o plano corporal ao manejo das palavras). Possibilitar que cada integrante troque suas experiências com outros num trabalho coletivo, cujo esforço implica uma constante investigação, experimentação, formação e disciplina. c) Quanto ao Público: Fazer um teatro que leve uma experiência necessária a uma comunidade entendida como um todo, como nos ensina Peter Brook, não pode lograr-se popularizando o teatro, num sentido ingênuo, adaptando-o aos gostos do público. Nem pode lograr-se, limitando o teatro às expectativas e critérios de uma elite. Tal teatro só pode ser criado sobre a base de um novo público, com a intenção de servir a todos aqueles membros de uma comunidade que vejam no teatro uma possibilidade de renovação pessoal. 

Assim, o objetivo do Grupo de Teatro Universitário é procurar uma maneira pela qual a arte dramática possa oferecer a seu público ‘imagens de nossa vida social suficientemente fortes para que possam, se não concorrer com as que são fornecidas sem descanso pelas revistas, pelo cinema e sobretudo pela televisão, ao menos proporcionar prazer e suscitar uma reflexão totalmente diversa’ (Bernhard Dort). 

Nessa direção, acreditando na importância tanto do processo criativo como na importância da qualidade dos seus produtos, em seus cinco anos de existência, a Oficina de Teatro da UEM e o Grupo de Teatro Universitário de Maringá já trouxeram a público três trabalhos: ‘A Exceção e a Regra’ de Bertolt Brecht; ‘As Desgraças de uma Criancinha’ de Martins Penna e ‘A Parada do Velho Novo’, seleção e adaptação de textos de Bertolt Brecht. No presente, quando ainda está sendo apresentada ao público ‘A Parada do Velho Novo’, o Grupo de Teatro Universitário já processa a elaboração de seu novo trabalho." 

Fontes: Revista Universidade e Sociedade (Ano 13, Número 17, Junho/98) / Acervo do jornalista Marcelo Bulgarelli / Acervo Maringá Histórica.  

Outras publicações:

Jardim Japonês

A mais popular jornalista da cidade – Anos 1980