As duas Anitas

1953

Com texto de Marco Antonio Deprá.

Recentemente um seguidor do site Maringá Histórica me questionou sobre a escola Anita Garibaldi. Disse-me que sua irmã, que atualmente reside em Ubatuba (SP), estudou nessa instituição de ensino, mas que não tem fotografias nem informações a respeito.

Consultando meus registros sobre a educação em Maringá, encontrei apenas uma escola que homenageia a revolucionária brasileira, conhecida por sua participação na Revolução Farroupilha e no processo de unificação da Itália, junto com o marido e revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi. Por esse motivo, é conhecida como a "Heroína dos Dois Mundos".

As informações que encontrei referem-se à Escola Rural Municipal Anita Garibaldi, que tinha somente uma sala de aula e localizava-se na Estrada Tatulândia, no Lote Rural 212-A, na Gleba Ribeirão Pinguim, na região onde atualmente localiza-se o Aeroporto Regional de Maringá Silvio Name Júnior.

Google Earth – Mapa da região do aeroporto com a localização da Escola Rural Municipal Anita Garibaldi.

A escola foi fundada em 1953 por Inocente Villanova Júnior, primeiro prefeito de Maringá, e teve seu nome oficializado em 26/07/1960, através da Lei nº 131, assinada por Américo Dias Ferraz, segundo prefeito de Maringá. 

A Lei nº 1.542, de 22/12/1981, assinada pelo prefeito João Paulino Vieira Filho, também oficializou a criação, denominação e início das atividades de todas as escolas municipais existentes à época, incluindo a Escola Rural Municipal Anita Garibaldi.

De acordo com o contido na Lei nº 1.613, de 20/12/1982, as atividades da Escola Rural Municipal Anita Garibaldi foram encerradas em 1977, quando os alunos passaram a ser transportados da zona rural para frequentar a escola na cidade.

Mas a escola em que a irmã do seguidor do site frequentou localizava-se na cidade e não na zona rural.

Então, voltei a pesquisar a questão e verifiquei que o histórico do Colégio Estadual João XXIII faz menção ao Grupo Escolar Anita Garibaldi. Na década de 1950, Maringá era uma jovem cidade que recebia levas de migrantes atraídos pela propaganda da Companhia de Terras Norte do Paraná e pela riqueza gerada pelos cafezais. Com o grande aumento da população, havia falta de escolas e, principalmente, de professores.

Foi para suprir esta carência que o Decreto Estadual nº 12.532, de 13/12/1955, criou a Escola Normal, de ensino secundário, e a Escola Normal Regional, de ensino ginasial, para a formação de educadores. As atividades dos dois estabelecimentos de ensino tiveram início em 09/03/1956.

Os profissionais formados por essas escolas tinham especificidades diferentes: aos concluintes do curso da Escola Normal Secundária, de grau colegial, era conferido o título de “professor primário”; já aos concluintes da Escola Normal Regional, de grau ginasial, o titulo de “regente de ensino”.

A Escola Normal Secundária funcionou provisoriamente no prédio do Grupo Escolar Dr. Oswaldo Cruz e, posteriormente, veio a ocupar as instalações do Ginásio Estadual Dr. Gastão Vidigal, que à época estava instalado na Quadra 6 da Zona 2, onde hoje funciona o Instituto de Educação Estadual de Maringá. Em 01/07/1958, através do Decreto nº 17.763, essa instituição passou a ser denominada Escola Normal Secundária Amaral Fontoura. 

Já a Escola Normal Regional foi instalada na Avenida Monteiro Lobato, 695, no Bairro Aeroporto, na Zona 8 de Maringá. A instituição estadual ofertava da 5ª à 8ª séries do ensino fundamental, chamado à época Curso Ginasial. Em 1960 passou a chamar-se “Escola Normal de Grau Ginasial Eduardo Claparède”. Em 03/03/1964 teve o nome alterado para “Ginásio Estadual da Vila Operária” e em 07/08/1964 foi denominado Ginásio Estadual João XXIII, em homenagem ao papa falecido em 03/06/1963. Por último, a instituição foi transformada em Colégio Estadual João XXIII, em 30/12/1969, quando também começou a ofertar à comunidade o ensino de segundo grau.

Anexa à Escola Normal Regional foi criada uma escola de aplicação, instituição de ensino dedicada a aplicar as práticas pedagógicas aprendidas e desenvolvidas na escola normal que servia de campo de experimentação e de prática de gestão escolar. Sua função social era integrar a teoria e a prática pedagógicas na formação de alunos e professores, através de estágio profissional para os formandos da escola normal.

Desta forma, em meados do ano de 1957, foi criada a Escola de Aplicação Anita Garibaldi, que depois, possivelmente em 1969, foi  transformada em Grupo Escolar Anita Garibaldi.

A Escola de Aplicação Anita Garibaldi era uma instituição de ensino estadual que funcionava no mesmo terreno da Escola Normal Regional e ofertava ensino das quatro primeiras séries do ensino fundamental, chamado à época de Curso Primário.

O fragmento do mapa de Maringá (1958-1960) mostra a Zona 8 e a localização da Escola Normal “Rural”, na verdade Escola Normal Regional.

Uma das primeiras professoras a atuar na Escola de Aplicação Anita Garibaldi foi Teophila Ninpha Rodrigues Lemes. Nascida em 14/11/1930, foi nomeada pela Prefeitura Municipal de Mandaguari em 29/09/1948 para o cargo de professora municipal, para lecionar na Escola Gleba Pinguim – Ensino Primário – Secção Maringá. Em 13/11/1951, com a emancipação de Maringá, a professora Ninpha foi contratada pelo Município de Maringá onde exerceu o magistério até 10/08/1956, quando foi demitida a pedido.

A professora Ninpha tornou-se servidora pública estadual em 13/07/1953, quando foi designada para atuar como professora na Escola Isolada da Vila Nova, depois denominada Campos Sales. Após a instalação do Grupo Escolar Anita Garibaldi, em meados de 1957, passou a ser uma das primeiras professoras naquela casa escolar, onde permaneceu por mais de mais de vinte anos. Em 1976, ela foi homenageada pelo prefeito Silvio Magalhães Barros por sua atuação pioneira em prol da educação em Maringá. A professora Ninpha faleceu em 21/07/2017.

Outras professoras são lembradas, com carinho, pelos ex-alunos do Anita Garibaldi:

- Alda Drugovich;

- Clara Diniz;

- Conceição Cavalheiro;

- Djanira Honorato Delmutti;

- Dulce Ramalho;

- Elisa Golembra;

- Kimiko Sakamoto;

- Laura Pereira;

- Lourdes Simionatto;

- Madalena Telles Campos;

- Margarida Teles;

- Maria Aparecida Alves;

- Maria José Lourenço;

- Maria José Soares;

- Maria José Velásquez;

- Marly Garrier;

- Martilina Castanheira;

- Nice Tourinho;

- Nila Mara Fontana;

- Rosa Luchetti Zelli;

- Sebastiana Capelatto; e

- Violanda Vegini;

- Vilma Candeo, dentre outras.

Sebastiana (Tiana) Cedaro de Mendonça foi aluna da Escola Normal Regional e, depois, da Escola Normal Secundária tendo sido nomeada professora do Grupo Escolar Anita Garibaldi, onde exerceu o magistério por cerca de dezessete anos, período em que se graduou em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. 

Passaram pelo Grupo Escolar Anita Garibaldi grandes diretores, dentre os quais se pode citar Edy Torrente Andrade, Irene Ribarolli Pereira da Silva e Lélia Taborda Cavalheiro. Dentre seus alunos, pode-se citar João Ivo Caleffi, que ocupou o cargo de prefeito de Maringá entre 23/09/2003 e 31/12/2004.

O Grupo Escolar Anita Garibaldi se manteve em atividade até o ano de 1980 quando, por meio do Decreto de Agregação nº 1.980, ocorreu sua junção ao Colégio Estadual João XXIII - Ensino de 1º e 2º graus, formando assim, um único estabelecimento de ensino.

Em 2018 foi anunciado que o Colégio Estadual João XXIII havia sido selecionado para ser convertido em Colégio Militar, o que de fato ocorreu a partir de 2019, após adequações dos prédios ali existentes e adequações no currículo oferecido pela instituição.

Atualmente, Anita Garibaldi não é mais lembrada em Maringá através de nomes de escolas, ruas, praças, edifícios ou instituições públicas.

Fontes: Texto e contribuições de Marco Antonio Deprá. 

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