Estação inacabada e a chegada do trem - 1954

1954


Em 31 de janeiro de 1954, o primeiro trem de passageiros, puxado pela locomotiva 608, procedente de Curitiba, aportou em Maringá. O maquinista que conduziu o veículo foi José Mariano, apoiado pelo foguista José Glade. A gerência da estação ficou sob a tutela de Américo Lopes.

O evento, considerado um dos mais relevantes na história do desenvolvimento de Maringá e região, foi concebido como um dia festivo. Para os empresários, que viam aumentar a possibilidade de prosperar, e os políticos, de olho nos dividendos eleitorais, a chegada do trem foi um marco, um novo tempo surgia. A multidão presente, muitos convidados pelas lideranças empresariais e políticas da cidade, sabia que Maringá nunca mais seria a mesma depois daquele dia. Como de fato não foi.

Depoimentos apontam que mais de quatro mil pessoas presenciaram a chegada do trem. Aquele foi um dia chuvoso. 


A empolgação dos maringaenses e de moradores de cidades próximas, comprovada pela grande presença de público, é plenamente justificada porque foi uma espera de anos. O último trecho que havia sido inaugurado pela Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (RPVSC) foi em 1944, quando atingiu Apucarana. Até 1954, este era considerado a “ponta do trilho” mais próxima de Maringá. A explicação: foi em 1944 que a RPVSC foi adquirida pela União, no pacote de ativos vendidos pela inglesa Companhia de Terras Norte do Paraná. 

Após a chegada do trem na inauguração da estação, era necessária, naturalmente, a sua partida. O ex-funcionário da Rede Ferroviária, Antônio Moreno, que trabalhou durante muitos anos no local, detalhou:

[...] Tinha gente que subia até nas rodas, não dava nem para mexer com a máquina, na hora da máquina partir [...] foi o maior sufoco de tanta gente que subiu para dentro desse trem, por dentro da máquina, no limpa trilho [...] quando chegou [...] tinha mais ou menos, não dizendo nada, mais de quatro mil pessoas [...] veio gente do campo e quando ela chegou, ela chegou bem devagarzinho, mas na hora de sair, foi um Deus nos acuda [...] foi aquele foguetório, aquele churrascão [...] Os cerealistas aqui deixavam caminhões  de cerveja [...] porque precisavam muito do trem [...] não passava caminhão, não passava nada por aí na estrada [...] 


Não se tratou, portanto, de mera inauguração de um prédio, o que já estava se tornando comum pelas bandas de Maringá, mas de um complexo ferroviário que contemplava, evidentemente, a Estação Ferroviária. Mas, para além dessa estrutura, um trecho de 64 quilômetros de trilhos que conectou Maringá a Apucarana, e, de lá, para o restante do país. Porém, até para cidades próximas, o tempo de viagem era longo:

A inauguração do novo trecho deu-se a 31 de janeiro, com o trem de passageiros que, partindo de Apucarana às 9 horas, chegou a Maringá pouco depois de meio dia. Esse trem conduzia a comitiva da qual fazia parte o representante do ministro da Viação e Obras Públicas, Dr. Silvio de Aquino da Costa, além do diretor da Rede, Dr. Raul Zenha Mesquita, e vários chefes de serviço dessa estrada. [...]. 


Depois da chegada do trem, fizeram uso da palavra, na praça em frente à Estação Ferroviária, o vereador Mário Urbinati, o gerente geral da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), Aristides de Souza Mello, e o representante do Ministério da Viação e Obras Públicas, Silvio de Aquino da Costa. Na sequência, durante o almoço, servido no Restaurante Lord Lovat, outras personalidades discursaram: o engenheiro Miguel Ângelo Cançado, Balthazar Lopes Fernandes, possivelmente, representante do prefeito Inocente Villanova Júnior, e o empresário Ângelo Planas. 

A bibliografia existente da história local levava a crer que o prédio da Estação Ferroviária estava completamente concluído quando ocorreu essa inauguração. Contudo, uma pesquisa publicada em 2017 atestou que, como se não bastasse o atraso no início de suas operações, a obra estava inacabada durante aquela solenidade. A informação pode comprovar a força da CMNP, juntamente com a pressão de todo o empresariado local, para que o trecho fosse logo inaugurado. 

Esse complexo foi administrado pela Rede de Viação Ferroviária São Paulo-Paraná entre os anos 1954 e 1975, e pela Rede Ferroviária Federal S.A. de 1975 até 1991, quando foi demolido para dar espaço ao Projeto Ágora, desenvolvido por Oscar Niemayer nos anos 1980, e que não saiu do papel. Atualmente, a região é conhecida como Novo Centro de Maringá. 

Fonte: Livro - Maringá 70 anos: a cidade contada pelos que viveram sua história, publicado pela Unicesumar / Acervo Maringá Histórica / Revista A Pioneira – Novembro e Dezembro de 1954.

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